Agricultura
As vencedoras, a bola!!!
Entre ajudar a mãe com os afazeres domésticos, que no imaginário da sociedade patriarcal é trabalho de menina, e estudar, havia o recreio na escola que funcionava num espaço improvisado ao lado de um campo de futebol.
A única brincadeira no horário do recreio em virtude da falta de infraestrutura, era o futebol, que muitas vezes tinha como bola um coco seco e/ou uma bola feita com pedaços de tecidos velhos. E nesse momento que deveria ser de brincadeira de crianças entre 7 e 10 anos, estava lá criando raízes, ganhando profundidade, o Patriarcado que dividia o momento de fortalecimento dos laços de amizade entre “aqueles” que tinham algo para brincar e “aquelas” que ficavam literalmente, “a ver navios”. Sim, um mundo dividido pelas letras “E” e “A”. Meninos para o campo!!! Meninas sentadas olhando!!!
Para aquelas que desejavam aproveitar o intervalo de estudo e também brincar, se jogavam ao campo do machismo que dava pequenos frutos naqueles pobres meninos, que as recebiam essas com gozações, desdém e na insistência de algumas em entrar em campo, retrucavam-nas com violentos esbarrões e chutes com a máxima força da desigualdade de gênero, e assim, cresce uma geração de meninas rurais que de esporte só conhecem o futebol, onde não podem jogar, algumas vezes assistir, nunca opinar e/ou conhecer.
Meninas jogam partida de futebol na Fazenda Santarém – Foto: Rogério Gama
Essa geração de meninas rurais que tiveram as suas jogadas impedidas pela falta de espaços para a prática de esportes, e significativamente pelo machismo que as inibiu de praticar o único esporte acessível no meio rural – o futebol – hoje, por alguns domingos no ano, reacendem os sonhos de estarem ali sendo protagonistas das jogadas, penalidades e comemorações através dos torneios de futebol.
Nesses espaços de confraternização masculina, onde o machismo e misoginia são a prática do dia, seja pelo linguajar praticado na beira do campo, onde todas já ouviram muito mais que uma vez na vida “tá caindo como uma mulherzinha”, “até minha mulher joga melhor que isso” ou pelos olhares masculinos de questionamento ao verem a presença feminina em torno de um campo de futebol, sem que essa esteja ali comercializando doces, salgados, dindin, entre outros. Sim, mulheres trabalhando nos improvisados campos de futebol da zona rural, não só pode, como é dado um título a essa: recatadas e do lar. Além de serem vistas como mulheres esforçadas, vivas, entre outros adjetivos. Cansadas, pela tripla jornada de trabalho? Não!!! Afinal, elas estão num espaço de diversão, e esse dinheiro extra é somente uma ajuda que compra roupas, material escolar, gêneros alimentícios diferenciados e ainda alguns utensílios domésticos, ou seja, tudo coisa de mulher.
Partida de futebol de meninas na Fazenda Santarém – Foto: Rogério Gama
Aquelas que se atrevem a torcer, precisam logicamente do suporte masculino para interpretar os lances, pois, além de não ter espaço para jogar, também não há espaço para opinar sobre o jogo. Imagina se uma criatura que tem como função nessa vida brincar de bonecas, lavar pratos, cozinhar, arrumar cama, varrer casa, vai entender a magnitude de 22 homens disputando uma bola com o intuito de ter um orgasmo futebolístico, o gol.
E assim se resume o espaço no mundo do esporte, em espacial ao futebol para as mulheres rurais: vendedoras de comidas e bebidas nas competições, ou torcedoras com intérpretes. Quanto a jogar futebol, é mais aceitável incluir uma partida com os famosos ETs de Varginha que futebol e/ou esporte no meio rural para as meninas, jovens e mulheres rurais.
Campanha 2019 #MulheresRurais, Mulheres com Direitos
De 1º a 15 de outubro, a Campanha #Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos promove 15 dias de mobilização para valorizar a contribuição das trabalhadoras do campo ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável relacionados à igualdade de gênero e ao fim da pobreza rural. O tema norteador da quinzena ativista é “O futuro é junto com as mulheres rurais”, com a hashtag #JuntoComAsMulheresRurais.
O principal objetivo da campanha é destacar o trabalho promovido por pescadoras, agricultoras, extrativistas, indígenas e afrodescendentes. A campanha no Brasil é coordenada pela Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em parceria com a FAO, a ONU Mulheres, a Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul (REAF) e a Direção-Geral do Desenvolvimento Rural do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai.
Texto: Simone Santarém (Blog Flor de Umbuzeiro)
Fotos: Rogério Gama
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