O ?Círculo de Conversa sobre cultura, desenvolvimento social e turismo promovido na quarta-feira (10.08), no Centro Cultural da UFMT, deu início a um projeto que pretende fomentar o turismo de base comunitária no estado. Nesta quinta-feira (11.08), integrantes do trade turístico, acadêmicos e interessados participaram das discussões realizadas no distrito de Mimoso, em Santo Antônio do Leverger.
A ação promovida pela secretaria adjunta de Turismo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec), com apoio da Secretaria Estadual de Cultura (SEC), contou com a participação de Alemberg Quindins, fundador da Fundação Casa Grande ? Memorial do Homem Kariri.
O secretário adjunto de Turismo, Luiz Carlos Nigro, frisou a importância de estimular o turismo de base comunitária em Mato Grosso. “Nosso intuito de trazer essa discussão para o estado é que a gente possa inspirar toda a comunidade a apoiar esse projeto que é desenvolver o turismo sustentável e gerar renda e emprego para as pessoas fortalecendo as comunidades onde vivem”, reforçou.
Músico de formação popular, Quindins fez um breve resumo sobre a trajetória do projeto instalado no sertão do Ceará, no município de Nova Olinda que possui pouco mais de 15 mil habitantes.
O espaço funciona há mais de 20 anos e começou como um lugar para brincadeiras de crianças e aos poucos foi se tornando um centro cultural profissionalizante. “Foi observando as crianças que iniciamos a gestão da fundação. Colocamos elas para cuidarem do espaço, cada um na área que mais se encaixava. E com o tempo, as famílias também foram se envolvendo no processo de manutenção e apoiando como podiam. Lembro que logo no início nossas despesas eram R$ 200, R$ 100 para a energia e R$ 100 para uma pessoa que ?tomava conta? do lugar”, lembrou Alemberg, destacando que o custo atual para manter o local gira em torno de pouco mais de R$ 40 mil/ano.

Mobilização social
Foi brincando de administrar, como Alemberg mesmo diz, que hoje a Fundação Casa Grande se tornou um importante espaço voltado para a memória, comunicação, artes e turismo que tem como base cinco programas prioritários: educação infantil, profissionalização, empreendedorismo social, geração de renda e sustentabilidade institucional. “Através da nossa Fundação a cidade foi tomando outra forma. Nossos visitantes começaram a aumentar e isso exigiu que todos se preparassem melhor para receber esse pessoal de fora. Assim foram sendo criadas pequenas pousadas, restaurantes, lojas e serviços em geral. Isso foi gerando renda e trabalho para o povo de Nova Olinda e, de alguma forma, esse desenvolvimento permitiu que casos de alcoolismo, por exemplo, fossem minimizados e as mulheres locais começaram a ser mais respeitadas e admiradas pelos seus companheiros e por todos”, ressaltou Quindins. Hoje, a Fundação recebe cerca de três mil turistas por mês de todas as partes do mundo.
O fundador também defende que o turismo comunitário deve ser encarado como um turismo de conteúdo, em que mais importante que o dinheiro dos turistas é o que ele deixa como legado em sua passagem. “Entendemos que é preciso haver uma interação maior entre o turista e a comunidade, seja através de conversas, experiências e troca de informações. O turista tem que ir embora sabendo mais do que quais são os pontos turísticos, seria bom ele saber a história da Dona Maria que costura roupas há mais de 30 anos, ou mesmo, o Seu João que é o ferreiro mais antigo da região e que até hoje trabalha do mesmo jeito… São essas peculiaridades que só quem tem memória pode mostrar. Tem cidadezinha por aí que a primeira coisa que a gente vê é um motel bem suntuoso na entrada dela e depois uns botecos e farmácias. Mas, será que nesse lugar tem um museu que seja? Um local para leitura, brincadeiras, música e profissionalização de crianças e jovens?”, questiona.
Por meio de cursos em áreas como audiovisual, arqueologia, rádio e comunicação aquelas crianças que começaram no projeto hoje estão trabalhando pelo Brasil e até fora, permitindo que empreendam em Nova Olinda e em outros lugares.
Para fechar o círculo, a superintendente de Políticas do Turismo, Cynthia Corrêa aproveitou para reforçar as ações da pasta. “A experiência trazida pelo Alemberg nos dá uma lição de humanidade e de como é importante o papel das pessoas em uma comunidade, pois o ambiente que a gente constrói é o maior legado que podemos deixar. E não se chega a esses resultados se não permitirmos que as pessoas possam se expressar. Na secretaria o nosso objetivo é realizar ações que fortaleçam as comunidades e o turismo comunitário é uma alternativa que estamos buscando desenvolver”, concluiu Cynthia.